quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Imagem e Semelhança de Deus

Este artigo foi escrito para a matéria Antropologia Teológica, mesmo assim resolvi compartilhar, é um pouco filosófico, mas vale a pena refletir um pouco (as referências estão no orginal se alguém quiser o arquivo completo é só pedir por e-mail).


A Bíblia apresenta o homem como tendo sido criado a “imagem” e “semelhança” de Deus (Gn. 1:26, 27). Esta afirmação tem gerado múltiplas interpretações ao longo da história, principalmente por que não há evidência clara no texto sobre como seria esta imagem de Deus. O primeiro objetivo deste artigo é dar uma visão rápida sobre as várias hermenêuticas com respeito à imagem de Deus no ser humano ao longo da história bem como apresentar um conceito atual sobre o que é ter sido formado a imagem de Deus. O segundo objetivo é apresentar o significado objetivo e subjetivo para o ser humano pós-moderno.

Interpretações Sobre a Imagem e semelhança de Deus

O Dr. Mário Veloso reúne em cinco as principais interpretações quanto a natureza da semelhança do homem com Deus.

a. Imagem Física. O ser humano é fisicamente semelhante a Deus. O problema desta maneira de interpretar é que limita Deus a um corpo , além de que homem e mulher não poderiam separadamente ser semelhantes a Deus. Embora a idéia de corpo espiritual não possa ser descartada como no caso dos anjos.

Essa idéia reflete o conceito oriental de que o homem havia sido feito segundo algum tipo de molde. Mas o fato que o homem tenha sido criado a imagem de Deus não significa que essa imagem seja física.

b. Imagem na Razão. A capacidade de raciocinar não só difere os homens dos demais seres criados como também o identifica com seu criador. Esta escola de pensamento desenvolve-se largamente na teologia Cristã, são personagens dela: Atanásio, Clemente, Agostinho e principalmente Tomás de Aquino.

A razão pode ser algo da imagem de Deus no ser humano, mas, daí a limitá-la ao raciocínio, a autoconsciência humana não capta o todo, pois Deus e ser humano são muito mais do que somente razão.

c. Imagem no Relacionamento com Deus. O ser humano é a imagem e semelhança de Deus quando se relaciona com Ele ,como defendiam Sören Kierkegaard e Emil Bruner. Karl Barth vai nessa direção, ele vê a imagem e semelhança no relacionamento entre homem e mulher.

Sem dúvida o aspecto relacional deve estar presente na imagem de Deus no homem. Pois o homem não foi criado sozinho. Ele foi feito homem e mulher. Criado para relacionar-se. Embora essa abordagem falhe em incorporar outros aspectos como a própria razão mencionada anteriormente.

d. Imagem no Domínio sobre a natureza. A Imagem de Deus seria de natureza funcional, quando o homem exerce sua função de dominar sobre a natureza e os demais seres da criação, assim como Deus domina sobre o universo. Após o Concílio Vaticano II a igreja Católica passou a desenvolver esse conceito. Há outros defensores desta idéia como: E. König, H. Gunkel, Th. C. Vrieaen, K. Schmidt, L. Köhler e J. Hempel.

Há forte oposição a essa visão, pois, o contexto da referência ao domínio do homem sobre os seres não é mais da imagem de Deus no ser humano.

e. Imagem na Capacidade de viver em comunidade. Deste ponto de vista o homem sozinho nunca poderia refletir a imagem de Deus. A trindade é uma comunidade e como tal o homem só reflete a imagem de Deus quando está vivendo em comunidade. Essa idéia tem suas raízes no humanismo.

Esse conceito se aproxima bastante daquele mencionado na letra “c”, mas, vem ganhando bastante destaque na ênfase que se dá aos pequenos grupos hoje. Porém, mesmo uma única pessoa também foi criada a imagem de Deus e não apenas a comunidade.

Essas visões não estão baseadas tanto na Bíblia quanto na opinião dos teólogos que as defendiam.



Além desses merecem atenção alguns outros pontos de vista

Plotino, entendia que somente a alma é a imagem verdadeira de Deus, ela reflete a sabedoria divina, mas decaiu e “precisa retornar ao estado original de união com Deus”.

Na teologia rabínica do judaísmo posterior a semelhança com Deus constitui para uma exortação à vida segundo a lei, na qual se vê a expressão mais perfeita da semelhança com Deus.

Filo fala de uma semelhança com Deus “transmitida pelo Logos invisível”. A essência propriamente dita do homem e da semelhança com Deus é também a alma espiritual.

Conceito pessoal imagem e semelhança

Pode-se concluir que a imagem de Deus no homem se reflete na totalidade do ser em aspectos como: “Capacidade intelectual, pureza moral, natureza espiritual, domínio sobre a terra, criatividade e capacidade de tomar decisões éticas”

Todos os aspectos do ser humano que apontam para Deus são englobados na declaração do homem feito a imagem de Deus , declaração esta feita antes da deformação feita pelo pecado na natureza humana. E foi esta imagem que Jesus Cristo veio para restaurar. Antes do pecado

o destino do homem era alcançar a mais elevada expressão da imagem de Deus: amar a Deus de todo o seu coração, alma e mente, e amar aos outros como a si mesmo (Mat. 22:36-40).



Portanto, a imagem de Deus deve ser entendida como representada na totalidade do ser humano, envolvendo suas faculdades físicas, mentais e sociais. “No princípio o homem foi criado à semelhança de Deus, não somente no caráter, mas na forma e aspecto”. O homem é livre e destinado a ter um relacionamento com seu Senhor. É livre inclusive para revoltar-se contra seu criador.



Mensagem para a sociedade pós-moderna

A idéia do ser humano como feito à imagem de Deus abre espaço para apreciar aspectos da Sua imagem noutros seres humanos. Mesmo naqueles que têm crenças diferentes daquelas defendidas pelo cristianismo. Isto só pode ser feita com base no mandamento do amor (Mt. 22:39), amor pelo ser humano feito a imagem de Deus e dotado de liberdade para crer ou não no seu Criador.

A partir do momento que o cristão permitir que o outro seja livre, como Deus o criou para ser quem é, então, pode começar a estabelecer pontes desde os pontos de vista comuns entre a Bíblia e o mundo pós-moderno. Tais como o valor da vida humana (Ex. 20:13), o respeito pela natureza (Gn. 1:28), a liberdade (Gn. 2:16 e 17), o não determinismo, ou seja, a possibilidade de cada ser humano ser melhor do que o meio no qual foi criado (II Co. 5:17), etc.

A visão cristã da verdade revelada pode ser uma barreira para aquele que não crê no cristianismo. É preciso abrir os olhos para observar e encontrar as verdades defendidas pelas diferentes correntes filosóficas e religiosas do mundo pós-moderno. O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, mas, hoje está degenerado, inclusive na sua forma de abordar o próximo.

Saber que ainda não é a imagem restaurada de Deus, deveria semear a humildade no coração cristão para buscar o próximo que talvez esteja observando a vida e o mundo com diferentes óculos, embora precise da mesma solução. Deve-se “falar mais sobre os assuntos em que todos sentimos interesse, e que não encaminharão direta e incisivamente aos pontos de discórdia.”

Uma vez estabelecidas estas pontes o cristão teria aberto o caminho para responder a perguntas mais profundas que abatem o ser humano hoje. Perguntas quanto a sua origem, o problema do sofrimento, significado da vida e destino humano. Sem dúvida não há melhor resposta do que aquela para que aponta para a criação do ser humano como um ato de amor, baseado num propósito específico, para a vida e felicidades permanentes em relação com seu Criador.

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